Laura Alves
Por Alice Vieira
Acho que nunca falhei um espectáculo do Filipe la Féria, desde os tempos do “What Happened to Madalena Iglésias” na velha Casa da Comédia.
Por isso nunca falharia o que está agora em cena, dedicado à vida da actriz Laura Alves.
Quando eu era jovem, eu vivia em Lisboa, muito perto da casa dela e do Teatro Monumental. Pisou vários palcos, mas a partir da altura em que o Teatro Monumental foi construído, nunca mais saiu de lá. O Monumental tornou-se a sua casa.
Era uma actriz extraordinária, que fazia tudo bem: revista, comédia, cinema, etc.
A sua vida era essa, e o palco a sua casa.
Casada com Vasco Morgado (que sempre a explorou…) e depois com o maestro Frederico Valério (casamento que nunca ninguém entendeu, e que nem durou muito tempo, dado que o maestro viria a falecer três anos depois), toda a sua vida se passou no teatro.
Mas os tempos passam, e ela não envelheceu muito bem. Começou a ter falhas de memória, a esquecer coisas que tinha combinado, etc. E quando o Teatro Monumental foi abaixo — ela também foi.
Eu ia muitas vezes ao Café Paulistana — que há muito não existe — em frente ao Monumental. E lembro-me de a ver, sozinha, entrar pelo que restava do teatro — só pedras, mais nada — e andar por ali, pensando que estava a representar. Fazia muita pena vê-la: a falar, a fazer gestos, a dirigir-se a público que não existia — até que o filho dava por falta dela e ia lá buscá-la.
O espectáculo do Filipe La Féria começa por aí — e muito bem: ela, meio louca, a tentar equilibrar-se e caminhar entre as pedras. E a seguir começa a história da vida dela.
É um grande espectáculo e por isso estou aqui a falar dele: quem puder, vá ao Teatro Politeama, mas atenção, é preciso marcar com uma certa antecedência até porque — como acontece com os espectáculos do La Feria — há camionetas que vêm de longe e trazem espectadores de vários lugares.
E aplaudam muito, que o espectáculo merece.
Alice Vieira
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia, sendo considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.
Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira